segunda-feira, 31 de março de 2014

Coisas que nem a velhice(supondo-a portadora de maturidade e outras coisas ) melhora em mim... -talvez antes pelo contrário!!!





(em Leiria, quem diria!?)

Reconheço-me um estilo difícil. Sobretudo no que à expressão clara diz respeito (e ao feitio, concedo).
Tenho dificuldade em escrever com clareza o que penso.
Já o “velho” professor Ildo mo foi dizendo pessoal e notamente/pautamente atestando.
E o assunto complica quando não sou capaz de não juntar ao que escrevo o que sinto.
Contudo, neste imbróglio de estados/emoções, ressalvo-me com uma das verdades que reconheço sobre mim: posso criticar com um certo grau de azedume quem desconheço mas, quem conheço, nem por isso.
Mais, e se, aparentemente, critico, é porque Amo. E Acredito. E Luto, se for preciso.

quinta-feira, 20 de março de 2014

Carta Aberta ao Pe. Manuel -Estavas tão bem quietinho, ó não… Abílio Lisboa!!!





(Atenas...)



Meu caro padre Manuel

Escrevo-te assim, para este nome, como se não existisses, existindo mesmo, como que a querer disfarçar a ideia que te quero mandar mas que tanto poderia ser mandada a ti ou um outro qualquer com este nome ou que tivesse como missão as missões que hoje tens…
De qualquer modo, mesmo que não to tenha dito pessoalmente, o que aqui escrevo, acredito, é feito com a maior das amizades e no intuito de construir o que, acredito, continua a ser proposta para ajudar gente boa a ser maior!!! (Não sei se este texto a ti chegará mas chegará a muitos que me permitirão concluir e reflectir sobre o que aqui ficará escrito).
Fui-me habituando, à medida que os anos passavam sobre o meu “abandono do exercício do sacerdócio” a perceber que as dinâmicas de então ou as lógicas que inspiraram determinados agires terão, hoje, de ser diferentes.
(Por muito visionário e inovador que me considere, consigo obrigar-me a essa ressalva/reserva moral).
Contudo, certamente pelo orgulho que me acompanha, ao qual se junta a presunção de ter feito, em alguns campos, mais do que permitia a eclesialidade humana, não esquecendo os fulgores da juventude de então, e as opções na concretização do exercício do ministério tentando a fidelidade à natureza do ser Igreja criando Comunhão e comunidades por onde quer que passasse… a verdade é que, ano após ano, assim se foi construindo aquilo que desde a sua origem era denominado como um projecto de projectos… CAES de seu nome.
O meu abandono fez-me temer que muitos dos que comigo tinham permitido a dinâmica do espaço e dos espaços se fossem embora . Mas assim não foi. Mais, ficaram por vários anos a alimentar as forças e as ideias de quem veio depois, e a dar espaço para que outras dinâmicas se criassem e outras pessoas  (estudantes) se envolvessem.
Não sei o que se passou. Sei que manifestei a minha disponibilidade para explicar o porquê de algumas iniciativas mas tal nunca foi necessário. Duvido se pela falta da necessidade, se porque a minha matriz, talvez se julgasse, estar errada.
Ou então, porque simplesmente deixara de ser referência com efeitos retroactivos…
O que sei, e recordo apenas dois momentos especiais: a celebração aos Domingos, apelidada de Missa dos Estudantes e a Bênção dos Caloiros (recordar estes dois momentos celebrativos da fé não é pura ingenuidade, é mesmo afirmação dos equívocos dessa pastoral dita do ensino superior que deve superar o anseio de catequisar os seus destinatários, ousando ser um pouco mais, julgo, acredito e nessa lógica trabalhei).
A missa dos estudantes começa, na Igreja do Espírito Santo; como proposta em 1996 ainda com o Pe. Manuel Armindo. Em 1997, com a ida “do Armindo” para Roma foi-me entregue esse serviço da pastoral do ensino superior (entre outros).
Uma das iniciativas (ou projectos, uso a palavra porque sublinho o facto de nada crescer sem paciência e muito trabalho) que logo abracei foi a celebração aos domingos…
-mesmo que com meia dúzia de participantes,
-mesmo que fosse uma dor de cabeça arranjar grupo que a dinamizasse,
-mesmo que as homilias por vezes não fossem as adequadas,
-mesmo que a angústia de procurar sempre algo novo fosse dilacerante…
Sabia que, tanto eu como o projecto, estávamos a crescer e a percorrer caminhos novos… até em Leiria, ou sobretudo em Leiria!!! Com gente de Leiria e de fora de Leiria, mas em Leiria!!!
Essa cidade órfã de um padre Amaro ( e eu mais tarde serei mais um dos que abandonará o ministério, com uma história mais “bonita do que  a do Amaro”, penso, e estou disposto a discutir o assunto com quem quer que seja) para alimentar o seu anticlericalismo e as piadas brejeiras mas que continua a viver dependente das horas de ir levar os filhos/netos à catequese ou de os ir buscar às actividades do escutismo católico para depois se preparar para a reunião da loja maçónica, se afirmar como independente e laico e achar vergonhosa a riqueza da "Igreja", ou, sendo mais simples: coisas que os leirienses conseguem digerir com a maior das facilidades…
A Bênção dos Caloiros, surge mais tarde. Já fruto de uma constatação a a partir de uma regra de oiro no trabalho com os estudantes.
As Bênçãos dos Finalistas muito concorridas por familiares e amigos dos estudantes tinham uma exigência: não havia artistas convidados. Ou seja, tudo era feito pelos protagonistas… os estudantes. O que obrigava a muitas reuniões com as comissões de finalistas, com as equipas de elaboração dos textos da celebração, a repetir ensaios e mais ensaios para o coro improvisado ano após ano.
A verdade é que valia a pena, e valia sobretudo pelos estudantes com quem se aprofundava o relação e se descobria, tantas vezes, por aí terem andado e não termos tido a oportunidade de caminhar juntos mais cedo e não apenas na hora do adeus à cidade… Foi assim que nasceu a ideia da Bênção dos Caloiros…
No ano da chegada a Leiria ou do início dos estudos do Ensino Superior, promover uma celebração em que, não havendo artistas convidados, se fazia acontecer um momento marcante na vida dos que estavam a iniciar o seu percurso académico.
O facto de se ter proposto o pijama como “farda” do momento vinha na continuidade do que acontecia em dias de praxe em que os caloiros eram “obrigados” a esse vestir nas próprias escolas.
Mais reuniões, comissões de praxe, grupo de textos, coro da celebração e, sobretudo, a solidificação de um projecto de projectos pelo envolvimento maior dos jovens estudantes que cresciam na cidade.
E as coisas começaram a correr bem. E correram. Penso.
O que me leva agora a escrever estas palavras!? Sobretudo o desejo de partilhar esses tempos de então, talvez inspirados pela euforia transversal a tantas outras realidades humanas (pré-neoliberais e típicos pós-modernos!!!???) e também, e sobretudo, o querer dizer que acabar com algumas coisas é muito fácil. Basta uma decisão, sobretudo se for de uns iluminados que sabem sempre o que os outros fizeram bem ou mal, ou como deveriam ter feito bem mas fizeram mal. Construí-las demora um pouco mais e implica sabe Deus o quê. Tenho a certeza de uma: implica-nos!!!

Abraço Pe.Manuel e bom trabalho!


PS. Escrevi este texto no dia do Pai. Já não o tenho comigo, o meu. Já o fui no passado dessa forma ministerial e sou-o agora biologicamente. De todas essas vivências recolhi uma missão que acredito enxertada na vivência da fé: não há maior missão do que ser construtor de comunhão e de comunidades, sobretudo quando elas não nos são dadas pré-feitas…
Bom caminho!!!