segunda-feira, 12 de outubro de 2015

PAredes que falam mas que podiam contar muitos mais!


(Lisboa, 2015)
 
 
Reconheço que o tema não é pacífico mas também não pretendo esgotá-lo por aqui (!). Mas ficar calado é deixar que outras «ideias, opiniões ou convicções» façam escola e continuem a presidir às acções que depois perduram e demoram, por vezes, décadas, séculos ou até milénios a reparar!
Melhor, acredito que o assunto não terá sido pacífico e que terá envolvido várias pessoas e sensibilidades mas, como tudo o que não se discute na praça pública, (e nem tudo tem de o ser ou dever ser; e mesmo que tenha sido, nem sempre chega a este servo essa informação nem teria de chegar ou poderia ter chegado se a procurasse) permite que tentemos perscrutar outras possibilidades.
E sabemos, e por isso o sublinhamos, como este tipo de assuntos, por vezes, deixam as suas marcas até à eternidade em pessoas e até instituições.

Contudo, sou um daqueles sortudos que teve o privilégio de habitar aquelas paredes frias do Seminário de Leiria de 1984 a 1994. Dez anos, que recordamos (eu e tantos outros) com carinho! Dez anos tendo a sorte de não ter tido os melhores formadores do mundo mas formadores que, à sua maneira, com o que sabiam e o que procuravam saber, fizeram o melhor que intuíam enquanto pessoas, fruto da vivência da Fé em Deus e da vivência eclesial. Alguns com idade para serem, já então, nossos avós, mas que à sua maneira nos transmitiam um conjunto valores, de jeitos de vida e paixões únicos e inspiradores (haja quem escreva essa história bem melhor que eu, com o engenho e arte que lhes é merecida).
No entanto, tenho de o partilhar, e apesar das muitas e oportunas obras, consigo ir passando por aqueles corredores, alguns já modificados, e continuar a sentir-me dos da casa, a identificar em alguns pontos específicos os habitantes de então, com quem nos cruzávamos nas várias “secções” que nos permitiam entrar como crianças e sair já, ou quase, homens e padres feitos!
Talvez por tudo isso, e algo mais é certo, que foi com um pico de ansiedade (os 40 anos não trouxeram grande maturidade mas trouxeram essa capacidade de querer saborear a totalidade da vida recente e passada) que na companhia de um companheiro de então fui privilegiado com uma visita não oficial… (desculpem mas ainda hoje sentimos aquela casa e causa como nossas) às novas paredes do nosso Seminário. (Aqui percebo melhor o tom com que um falecido tio, ex-seminarista, falava dos seu velho seminário, hoje “apagado” sob a construção do actual Arquivo Distrital de Leiria).
E desculpem-me a angústia que partilho ter sentido quando, em alguns lugares, salas e espaços, fui sendo confrontando com os nomes que desde sempre habitam a corte celestial, e alguns candidatos (recordo-me do Papa Francisco…). Reconheço que para mim aqueles lugares, por muito que estejam enfeitados com nomes e histórias como o da “Beatriz da Silva”, estão-no muito mais pelo de “recentes” bispos, reitores, formadores (prefeitos), professores, directores espirituais, funcionários, padres e  leigos, irmãs, visitadores... Recordo os do meu tempo, assim como as gerações anteriores e as que seguiram recordarão os seus… e eram esses todos que, com todo os riscos inerentes, gostaria de ver por ali referenciados nos nomes, nas histórias, enfim na Obra!
Sem medos, por que quem não tem capacidade de celebrar os vivos, penso sem a exclusividade da verdade, que pouca capacidade terá de celebrar o melhor que a vida nos deu: (e que por aquelas paredes aprendemos, como mister, tantas vezes em conflito interior, confronto intelectual, batalha geracional, aprendemos, repito, a Amar) as Pessoas! Com quem nos vamos cruzando em vida. Mesmo que tenham partido ou andem por aí ainda. Todos os outros já canonizados qb, não me importa de os encontrar um dia na eternidade! Mas, a estes, gostaria de os ir tocando e vendo como referenciados na história recente da minha e de tantas outras vidas que por ali se foram cruzando e fazendo a Igreja diocesana e universal. Tudo isto sem uma interferência maior da corte canónico-celestial!
Seria possível!? -Não sei! Sei que é possível escrevê-lo, partilhá-lo e desejá-lo!

PS1. Um pedido: Aquela Sala Papa Francisco será para mim e muitos outros a sala do Sr. Carlos. Homem de sete ofícios, a quem recorríamos sempre que algo de “tecnológico” fosse necessário! Custa assim tanto, celebrar a história?
PS2. Como aquela sala, muitos outras haverá nessa casa que para sempre ficarão associadas na memória dos vivos  a pessoas e factos concretos! Estas linhas pretendem, quanto muito, sublinhar que acredito ser possível e desejável que tal aconteça!

terça-feira, 6 de outubro de 2015

Fugas de um Amor menor! -Ou isso, ou uma droga qualquer que me adormeceu, a mim, ou os enfeitiçou a eles!?

(Lisboa, 2015)


Reconheço a minha dita cuja preguiça, se assim lhe quisermos chamar. Mas a vida tem-me permitido (alguns excessos, é certo, mas também e sobretudo) uma certa convivência com o mundo e as pessoas de um modo geral. Ao ponto de me poder considerar um moderado com uma capacidade "fora do habitual" (presunção à parte) para ler a vida, os acontecimentos e as pessoas.
Talvez por isso, sempre que ouço os grandes gurus das ocupações alternativas de tempo (desportivas, artísticas, e outras)  não é sem uma certa distância de dúvida para-existencial que o faço e me posiciono a tentar perceber como é que é possível eu não ocupar de maneira tão loquaz o meu tempo ou os meus tempos!
E, reconheço, que nem um pingo de vergonha ou de inveja me assola!
Porque é vê-los (em tempos que já lá vão, tão ocupados para poder acompanhar os filhos à escola ou nos trabalhos; em tempos que já lá vão, tão expropriados da possibilidade de partilhar com as caras metades as lides mais ou menos domésticas; em tempos que já lá vão, completamente impossibilitados de empenhamento em qualquer causa enriquecedora do bem comum; em tempos que já lá vão, manifestamente entristecidos pela sua ausência na construção da dita cuja cidade que habitamos) agora a ter tempo, e a passar horas e dias a lutar pelos quilómetros sem fim, pelas velocidades estonteantes, pelas resistências supra humanas e a ausentar-se sistemática e continuamente do convívio daqueles a quem a vida lhes deu, por opção (e acaso), para não serem mais do que uma referência desportiva ausente, uma presença efectiva e afectiva que prima pela ausência.
Que me perdoem os meus amigos que, por vezes resvalam por estes caminhos da minha incompreensão, mas ninguém me tira  a ideia que tanta ausência, na companhia de  qualquer equipamento desportivo ou artístico ou, simplesmente, na companhia de si mesmo e da procura dos seus próprios limites (mesmo que a maior parte do tempo em alucinação quase letal) é comparável ao tempo que podemos e devemos passar com aqueles que amamos, em consciência!