(Rua Voz do Operário, Graça, Lisboa)
Acho que este crescimento das "alterações climáticas" me começa a preocupar e a afectar.
Noites de Maio que parecem de Novembro.
Não haverá possibilidade de despedir os nossos meteorologistas? E de começar a comprar gasolina e gasóleo nas "feiras"?
A sério. A sério. Defensor de um mundo em que todos a tudo têm direito de igual modo, ao imaginá-lo, dou por mim a ficar um pouco egoísta (subconsciente sob efeito da paternidade?). E no entanto, a maior parte da população mundial, sem conferir dados de qualquer organização, não deve ter acesso a 30% do que eu tenho...
Quando tiver(MOS), será que conseguirá (EMOS) respirar!?
Entretanto, ou ainda antes, reli um texto do final do século e milénio passados mas que ainda não tem 20 anos. E, tal como então, continua actual.
Partilho-o de novo:
“ Descartes escreveu o Discurso do Método. Passou a ser a carta, o dicionário que passava da linguagem da vida de todos os dias para a linguagem científica. Descartes escreveu o método da ciência. Num outro livro, Ensaios, Descartes explica porque o fez. Descartes tinha alucinações. Era um homem inquieto que precisava de saber quando se estava a mover na realidade ou a habitar num mundo de fantasia.
O método que depois idealizou nasceu de um problema interior, pessoal,. para Descartes, o Discurso do Método era o seu método de saber o que era real e o que era ilusão.
Quiseram as gerações que o leram ao longo de mais trezentos anos ver nele uma nova trindade: a da Ciência, a da Tecnologia, e a da Razão.
Nessa novíssima trindade, a Ciência era eterna como o Pai, a Tecnologia ía salvar-nos como o Filho, e a Razão iluminar-nos como o Espírito Santo.
Durante estes três séculos e meio, batalhámos para inventar um substituto para Deus, e, sempre que o fazíamos, invocávamos o Discurso do Método. E tanto lutámos que hoje cá estão os substitutos técnicos de Deus: o poder e o dinheiro.
Com eles construímos um mundo de terror de tal maneira medonho que as nossas mulheres têm medo de ter filhos porque não sabem avaliar qual será o seu futuro, e nós, homens, não queremos ser pais. Não existe, para qualquer espécie, maior medo do que este.
Mas também não admira. A crença absoluta na nova trindade trouxe de volta as três ameaças sistemáticas ao bem-estar da humanidade: a fome, a guerra e duas pestes, a droga e a SIDA. E sempre que estes três cavaleiros do Apocalipse cavalgam sobre o Planeta nele se instala a desavença, a descrença, a pobreza e o fim da esperança.E, no entanto, o Homem que escreveu o Discurso do Método começava as aulas assim: «Ontem, um Anjo disse-me...». Ora, os Anjos iniciam, sempre, as suas mensagens com: «Não tenham medo...». É que eles sabem que há o Primeiro Cavaleiro do Apocalipse, que parte sempre para as novas vitórias da Renascença.”
(Carvalho Rodrigues, Ontem um Anjo
disse-me)