(Algures por Coimbra)
Nada há de pior do que viver num tempo fora do tempo
em que se vive.
Por outro lado nada há de melhor do que viver para
sempre em todo o tempo que fica… o restante. Deixando, se possível, um rasto de
luz (como diria alguém a quem devo a uma parte significativa da minha formação
espiritual).
Fora das lides artísticas, continuo a acreditar que o
que vamos deixando atrás de nós é a nossa herança a memória de nós do que fomos
e capazes de ser e construir, a nossa pegada escatológica.
Talvez pelas primeiras vezes notei, nestas férias, a
curiosidade regular e constante das minhas filhas em ler algumas das coisas que
o pai foi publicando nas redes sociais ao longo dos últimos anos (o que as fez
percorrer algumas das notas que fui partilhando “urbi et orbi” ao longo dos
tempos: textos, fotos e imagens… Nada de muito profissional (Mas até o próprio,
eu; já tinha notado que, de tempos a
tempos, ou de férias em férias gosta de criar algum dinamismo temático e publicar
algumas coisas mais leves, outras mais pesadas, alguns recados cirúrgicos ou
simples reflexões dispersas no tempo e nos tempos (sim há datas que são marcantes
que merecem o seu apontamento mesmo que não se refira o dia ou o acontecimento
fundador)).
Um pouco por tudo isso que fica atrás escrito, continuo
a achar uma certa piada aos que ousam não deixar rasto digital, a esconder as
caras das crianças nas fotos, a não publicar nada que um dia, em suposto
futuro, possa ser usado contra o próprio e sabe-se lá mais quem. (Como se um
passeio na rua, um pagamento com cartão, a entrada em qualquer loja, uma busca
na internet, ou a simples adesão a um cartão de fidelidade não registassem mais
de nós do que nós possamos imaginar).
No mundo empresarial temos o RGPD, na vida social não
se sabe bem o quê mas não vá, um dia, a esquizofrenia americana tomar conta de
nós e um simples “bom dia”, partilhado na rua, transformado em suposta agressão
verbal, prima da direita da maior das violações da privacidade…
Há que voltar aos tempos de não ter medo de deixar
atrás de nós algo que nos perpetue e nos dignifique. A nós e aos nossos!
Sem comentários:
Enviar um comentário