terça-feira, 26 de julho de 2016

De presunções está a mundo cheio, ainda bem! E de desfocagens, também, ainda mal!


(Barragem de Santa Luzia, Pampilhosa da Serra)


Sou um homem de sorte que tem a presunção de que quem me conhece tem a sorte de me conhecer. Passe o embrulho das palavras e das ideias.

O facto é que já tarde, sigo para casa em carro separado da Ana uma vez que nos tínhamos juntado (e jantado, se jantado…), após o dia de trabalho, em casa da sogra.

Quando saio do carro, ainda com a chave na mão vejo um jovem a vir em minha direcção meio cambaleante e a sorrir e, como se não bastasse, tentou tirar-me a chave do carro da mão. Facto que não consumou uma vez que os meus reflexos estavam ainda relativamente activos e a confiança, tendo em conta a pouca robustez física do miúdo de 23 ou 24 anos, de que não estaria diante de grande opositor.

Vai não vai, trocamos algumas palavras, entre as quais as da minha certeza que não iria fazer o que pretendia. Ao que, o dito cujo, me diz que não se importa uma vez que se vai matar e que fugiu do hospital! Palavras que me deixam inquieto pela incerteza que os factores aparentes me pareciam mostrar: estaria o miúdo embriagado, num estado de alucinação, já medicado!?

A verdade é que senti pelo rapaz uma certa “ternura”. Estava visivelmente “adormecido” e cambaleante fosse qual fosse a razão… o que me levou e continuar a conversa com a preocupação de perceber o que se passaria e o que seria uma aproximação à Verdade.

E a verdade é que lhe disse olhos nos olhos que tinha tido a sorte de me conhecer e que, como tal, não se iria matar! Ao que ele sorriu e me pediu para que ligasse à mãe, dizendo prontamente um número de telefone. Registei e marquei por duas vezes mas ninguém atendeu. Situação que me fez ter a certeza de que, das duas uma, ou o miúdo estava mesmo bêbedo (e perdido), ou teria fugido mesmo do hospital.

Não atendendo a mãe, disse-lhe que iria certificar-me se ele estaria a falar verdade. Liguei para o 112 e foi o início de uma conversa entre o possível e o real:

-o possível para dizer o que me parecia que se passava…(e o técnico do 112 bem andou a tentar perceber se eu não estaria a fazer um telefonema da treta, até porque com a preocupação tive uma branca e não me lembrava do nome da minha rua….(situação que colmatei indo ao carro ver os documentos (-os cérebros têm brancas estranhas, serão só os dos génios!?);

-o real é que tinha um miúdo á minha frente que não poderia deixar fugir enquanto ía tentando provar ao 112 a verdade da situação.

E a verdade, é que lá fui falando ao telefone, falando com o miúdo, não lhe deixando uma distância muito grande de mim para que se fugisse o pudesse apanhar ou pelo menos impedi-lo de se tentar magoar com gravidade tendo em conta a proximidade de algumas escadarias perigosas.

A meio da conversa chega um vizinho que entretanto chamei para ajudar (obrigado Rui bem sei que deves ter ficado baralhado, também por outras razões que a literatura junta não precisa de contar) que foi assistindo à conversa e integrando-se e inteirando-se da situação. Ajudando-me com o olhar a certificar que de facto o rapaz não estaria bem.

Passados alguns minutos, chega um carro descaracterizado com um senhor a falar para um comunicador. Sai do carro, permitindo-me perguntar-lhe se estava a tratar daquele assunto. Acena-me que sim, enquanto se dirige para o rapaz que, de facto, não oferece qualquer resistência. Tá-se bem. Era uma noite quente! Chegam mais dois carros, estes da polícia, que entretanto pegam no rapaz e me confirma que teria fugido do hospital.

Não sei as circunstâncias, se foi do internamento ou da urgência, sei que gostei de conhecer aquele miúdo e mais uma vez chegar á conclusão que mesmo quando não esperamos podemos fazer algum bem à vida de com quem nos cruzamos (espero ter sido o caso) memso que acidentalmente.

As melhoras miúdo! Põe-te bom que tal, como te disse, “agora que me conheceste, vou-te salvar!” Ao princípio não acreditaste mas naquela noite consegui!

Chego a casa e conto a história à Ana (que entretanto já me tinha ligado não sei quantas vezes mas como estava ao telefone não tina percebido) que olha para mim, e talvez pelo meu entusiamo, como se eu tivesse tido uma alucinação!!!

Mas não tinha tido. Era bem verdade! E ainda bem!