(Lisboa, 2015)
Reconheço que o tema não é
pacífico mas também não pretendo esgotá-lo por aqui (!). Mas ficar calado é deixar
que outras «ideias, opiniões ou convicções» façam escola e continuem a presidir
às acções que depois perduram e demoram, por vezes, décadas, séculos ou até
milénios a reparar!
Melhor, acredito que o assunto
não terá sido pacífico e que terá envolvido várias pessoas e sensibilidades mas,
como tudo o que não se discute na praça pública, (e nem tudo tem de o ser ou
dever ser; e mesmo que tenha sido, nem sempre chega a este servo essa
informação nem teria de chegar ou poderia ter chegado se a procurasse) permite
que tentemos perscrutar outras possibilidades.
E sabemos, e por isso o
sublinhamos, como este tipo de assuntos, por vezes, deixam as suas marcas até à
eternidade em pessoas e até instituições.
Contudo, sou um daqueles sortudos
que teve o privilégio de habitar aquelas paredes frias do Seminário de Leiria
de 1984 a 1994. Dez anos, que recordamos (eu e tantos outros) com carinho! Dez
anos tendo a sorte de não ter tido os melhores formadores do mundo mas
formadores que, à sua maneira, com o que sabiam e o que procuravam saber,
fizeram o melhor que intuíam enquanto pessoas, fruto da vivência da Fé em Deus
e da vivência eclesial. Alguns com idade para serem, já então, nossos avós, mas
que à sua maneira nos transmitiam um conjunto valores, de jeitos de vida e
paixões únicos e inspiradores (haja quem escreva essa história bem melhor que
eu, com o engenho e arte que lhes é merecida).
No entanto, tenho de o partilhar, e
apesar das muitas e oportunas obras, consigo ir passando por aqueles
corredores, alguns já modificados, e continuar a sentir-me dos da casa, a
identificar em alguns pontos específicos os habitantes de então, com quem
nos cruzávamos nas várias “secções” que nos permitiam entrar como crianças e
sair já, ou quase, homens e padres feitos!
Talvez por tudo isso, e algo mais
é certo, que foi com um pico de ansiedade (os 40 anos não trouxeram grande
maturidade mas trouxeram essa capacidade de querer saborear a totalidade da vida
recente e passada) que na companhia de um companheiro de então fui privilegiado
com uma visita não oficial… (desculpem mas ainda hoje sentimos aquela casa e
causa como nossas) às novas paredes do nosso Seminário. (Aqui percebo melhor o
tom com que um falecido tio, ex-seminarista, falava dos seu velho seminário,
hoje “apagado” sob a construção do actual Arquivo Distrital de Leiria).
E desculpem-me a angústia que
partilho ter sentido quando, em alguns lugares, salas e espaços, fui sendo
confrontando com os nomes que desde sempre habitam a corte celestial, e alguns candidatos
(recordo-me do Papa Francisco…). Reconheço que para mim aqueles lugares, por
muito que estejam enfeitados com nomes e histórias como o da “Beatriz da Silva”,
estão-no muito mais pelo de “recentes” bispos, reitores, formadores
(prefeitos), professores, directores espirituais, funcionários, padres e leigos, irmãs, visitadores...
Recordo os do meu tempo, assim como as gerações anteriores e as que seguiram
recordarão os seus… e eram esses todos que, com todo os riscos inerentes,
gostaria de ver por ali referenciados nos nomes, nas histórias, enfim na Obra!
Sem medos, por que quem não tem
capacidade de celebrar os vivos, penso sem a exclusividade da verdade, que pouca
capacidade terá de celebrar o melhor que a vida nos deu: (e que por aquelas paredes
aprendemos, como mister, tantas vezes em conflito interior, confronto intelectual, batalha geracional,
aprendemos, repito, a Amar) as Pessoas! Com quem nos vamos cruzando em vida. Mesmo
que tenham partido ou andem por aí ainda. Todos os outros já canonizados qb, não
me importa de os encontrar um dia na eternidade! Mas, a estes, gostaria de os ir
tocando e vendo como referenciados na história recente da minha e de tantas
outras vidas que por ali se foram cruzando e fazendo a Igreja diocesana e
universal. Tudo isto sem uma interferência maior da corte canónico-celestial!
Seria possível!? -Não sei! Sei
que é possível escrevê-lo, partilhá-lo e desejá-lo!
PS1. Um pedido: Aquela Sala Papa
Francisco será para mim e muitos outros a sala do Sr. Carlos. Homem de sete
ofícios, a quem recorríamos sempre que algo de “tecnológico” fosse necessário!
Custa assim tanto, celebrar a história?
PS2. Como aquela sala, muitos outras haverá nessa casa que para sempre ficarão associadas na memória dos vivos a pessoas e factos concretos! Estas linhas pretendem, quanto muito, sublinhar que acredito ser possível e desejável que tal aconteça!